Olá, meu nome é Luís Paulo e moro no Brasil.
Aqui, nós temos uma constituição federal em vigor que estabelece todos os nossos deveres, direitos e garantias fundamentais, entre eles, o de igualdade entre todos os cidadãos independente de religião, sexo ou raça. Esta mesma constituição garante que é dever do Estado prover educação à todos os brasileiros.
Ainda assim, perdi minha vaga em uma universidade federal.
Mas por quê?
É simples. Perdi minha vaga por estes motivos:
- O candidato tinha mais melanina que eu.
- O candidato tinha menos dinheiro que eu.
- O candidato estudou em uma escola pública, e eu não.
Seria cômico se não fosse trágico. No meu país existe uma lei que atesta a própria incompetência, quando reconhece que seu sistema de educação pública é totalmente falho. No meu país existe uma etnia que tem privilégios sobre as outras por ter sido escravizada há muitos anos por meus antepassados, e que praticamente (quando apoiam e se utilizam das cotas raciais) se atestam menos capazes que qualquer outro. Meu esforço hoje para conseguir estudar em uma universidade federal deverá ser muito maior do que antes era. E o esforço deles será muito menor.
Mas por quê? É simples:
- Nasci em uma família de classe média, mas de origem pobre. Meus pais saíram da pobreza e batalharam sozinhos para construir uma família e um patrimônio. Ambos professores, sempre trabalharam e lutaram para me dar uma educação de qualidade (que não era possível encontrar em nenhuma escola pública de minha cidade), uma boa saúde, uma cama, e um teto. Como sempre tive tudo isso, fui chamado de playboy pelos defensores da tal lei das cotas (como se eu tivesse alguma culpa). Mesmo pagando impostos e liberando vagas em escolas públicas para os menos favorecidos, tenho que estudar muito mais do que um cara que nunca teve isso. Se eu fosse um derrotista, desejaria que meus pais fossem negros e nunca tivessem conseguido melhorar de vida.
- Meu governo provê uma péssima educação ao seu povo, e como "justiça social" prefere dar vagas aos menos favorecidos socialmente do que aumentar a qualidade de sua educação. E eu compreendo o porquê: pessoas com pouca instrução votam em troca de cestas básiscas, dinheiro, camisetas. É mais fácil dar o peixe e ganhar votos do que ensinar a pescar e perder a oportunidade de desviar milhões dos cofres públicos para uma conta particular no paraíso fiscal suíço. É muito mais fácil para o governo remediar do que prevenir.
- Além de rotular os afro-descendentes como menos capazes e atestar que seu sistema de ensino é precário, o estado generaliza o negro como pobre e o branco como rico. Negros ricos e brancos pobres não existem no maravilhoso mundo super humanitário das cotas raciais. E isso se compensa com as cotas sociais, que mais segregam do que beneficiam. Um estudante com menos base para ingressar em uma universidade muito provavelmente perderá interesse no curso, ou sofrerá muito com a falta de conhecimento que se acarretou em um péssimo ensino médio provido pelo Estado. Se o estudante vier a abandonar o curso, uma vaga de alguém que muito provavelmente teria bagagem o suficiente para começar um curso superior em uma universidade federal é jogada no lixo. As universidades federais tendem à regressão na qualidade de ensino. Resumindo em uma analogia, não é possível fazer um edifício que possa se sustentar sozinho sem uma base que aguente todo o seu peso.
- A escola não faz o aluno, o aluno é quem faz a escola. Há muitos casos de estudantes de escolas particulares brancos e/ou ricas desinteressados em aprender, assim como há muitos estudantes da rede pública e/ou negros que querem aprender. A meritocracia não existe no sistema de cotas raciais, assim como a "justiça social e histórica" da qual estamos tão acostumados a ouvir.
- Já fui chamado de elitista, mauricinho, playboy, riquinho (mesmo sendo de classe média baixa e alguns desses que assim me chamarem terem melhores condições financeiras do que eu), e ouvi falarem que sou racista. Pelo contrário, creio que o ser humano não se mede por crenças, etnias, gêneros, classes sociais ou orientações sexuais, mas sim pelo interesse, intelecto, caráter, competência, responsabilidade. A justiça social verdadeira é aquela em que o Estado proveria educação, saúde, saneamento básico, empregos, e oportunidades. O que vemos hoje é um Estado hipócrita, que dá tantas "oportunidades" aos desfavorecidos e provê péssimas condições básicas para que estas pessoas possam ascender socialmente.
- Já ouvi falarem que quero legislar em causa própria, que se fosse beneficiado não estaria reclamando. Felizmente existem negros, pobres, e estudantes de escolas públicas que pensam da mesma maneira que eu. É uma questão ideológica, e não elitista. Não devo nada à nenhum afro-descendente pelo que meus tataravós fizeram aos tataravós deles. Essa lógica seria a mesma usada para dizer que os descendentes de Hitler hoje devem pagar aos judeus todo o mal que seu antepassado causou, sendo julgados da mesma forma. Eram outras épocas, outros pensamentos. Eu nasci em um tempo em que o racismo é considerado a imbecilidade que realmente é. Nunca senti orgulho por ter nascido branco. Isso é ridículo. Assim como acho ridículo um asiático ter orgulho de ser asiático, um negro ter orgulho de ser negro. As pessoas não se medem pela sua aparência ou pelo quanto de melanina possuem na pele..
Para concluir, só posso dizer que estudarei mais e que espero que um dia tudo isso mude. Quero ver negros, brancos, índios, aborígenes, ou qualquer outra etnia existente no mundo se tratando como semelhantes. Quero que tenham a mesma educação de qualidade que eu tive, o mesmo carinho familiar, as mesmas condições de saúde. Me sinto inferiorizado e injustiçado por incompetência de um governo omisso que trata os brasileiros necessitados como máquinas de fácil manipulação e não os ajudam DE VERDADE.
Não sou rico, não sou mauricinho, não sou playboy.
E também não sou hipócrita.